
Existe o meu lado inteligente, que pensa,
constrói histórias, destrói fantasmas
Opondo-se àquele território onde só sinto e berro
Esperneio e me espanto,
embora ninguém saiba ou veja.
Ah! Só eu conheço os caminhos palmilhados,
E se eu dissesse , quem entenderia?
mas, eu: interessa-me que alguém venha ,
neste momento preciso em que grito?
respondo-me : não.
É preciso andar horas dentro de mim
Não encontar ninguém nos corredores
por onde me afino e me estreito
Até não ser mais do que uma sombra
E igualmente:ninguém nos caminhos abertos
ao vento levando a estradas desconhecidas
à sempre possível ocasião de recomeços.
E ninguém na beira dos abismos que só eu sei,
e ninguém mesmo nas praias
(numa praia deserta com chuva,
o perfume da maresiatão forte nos cabelos,
o vento me inserindo na paisagem)
Onde meus pés desenhariam meus passos
na areia molhada,
Estar só e a partir desta solidão me reconstruir;
Só assim posso me apresentar aos outros.
então direi:
Voltei e sou assim,
a gente sempre volta.
Mas, queria voltar inteira,
os pedaços tão colados que nem se veriam os remendos.
E a alguns somente eu diria:
-olha, aqui tem uma ferida.
e eles entenderiam e só passariam os dedos
tranquilos e tão leves por cima,
com um respeito de quem viu o indizível.
Mavi Lamas